O EGO E AS RELAÇÕES HUMANAS
Desde de criança aprendemos com outro a ser nós mesmos. Apesar da forte relação genética que carregamos, são as experiências relacionais na vida que vai formando este conjunto de “eus” que é parte integrante de quem somos e tudo aquilo que representamos para o mundo. Nestas experiências, que começam desde os primeiros meses após o nascimento, somos submetidos a ambientes no qual irão constituir esta persona que nos representará como adultos.
O fato que nem mesmo este processo de amadurecimento necessariamente irá demostrar quem realmente somos, mas como parecemos ser, por que a cada encontro com a vida estaremos condicionados a nos apresentar, buscando representar aquilo que fará sentido para as escolhas que estamos fazendo na razão de constituir o nosso próprio mundo, que sempre se fará a partir das referências dos instantes presentes diante as experiência de vida.
Talvez por isso seja tão difícil encontrar dentro de nós mesmos os critérios mais excepcionais que possa nos limitar a sermos nós mesmos tão como aceitar o outro como ele é sem julgamento, aquilo que poderíamos chamar de ética das relações.
Da mesma forma que nossa razão de viver é única, a forma de se relacionar com o mundo é criteriosamente diferente entre cada um de nós e em cada relação. Nossas diferenças é que nos dá a oportunidade de exclusividade, de finalidades distintas perante ao mundo no qual participamos ininterruptamente nos relacionando. A busca da vida é uma busca singular, única e intransferível. E está nas relações o conceito que oportuniza esta introspectiva reflexão sobre as nossas escolhas. Sobre os encontros eficientes que nos potencializam e empoderam e que harmonizam, sobre o entendimento de que a igualdade entre os homens não deixa de ser uma ilusão. Atribuindo a nós a compreensão de que não existe igualdade no mundo da vida.
A ética das relações é a atribuição de valores sobre as condutas, não de maneira individual, mas entre os participantes diante uma comunhão. É o melhor encontro comportamental entre as pessoas no qual se convivem. Não é questão de regras e dilemas sociais, mas sim dá busca da melhor maneira de conviver, de se relacionar. A Ética não é só respeitar, implica em algo muito além, provoca a discussão, debates, argumentos e claro, defender a melhor atitude relacional.
Não há certo e errado como resposta universal, para a Ética, a resposta certa é aquela que foi aprimorada por todos aqueles que convivem, sendo então um exercício coletivo no esforço do melhor para todos que participam.
Por tanto, é importante entender que a liberdade é a razão do melhor viver. Se há Ética é porque é possível conviver diferentemente, onde cada um possa se apresentar como singulares. Se há Ética é porque somos livres para deliberar. Se há Ética é porque não há verdades transcendentes que sobreponha sobre às nossas diferenças. A referência está em cada um de nós.
Dentro de universo relacional está o julgamento. Nossos julgamentos também estão para tudo aquilo que nos tornamos e dificilmente conseguimos controlar. Neste sentido, quando julgamos na verdade estamos criando no outro este padrão identitário que há em nós, e essa falsa identidade se transforma numa penitência, nos aprisionando pelos modelos no qual julgamos ser o mais certo, tanto para aqueles que você julga como pra você mesmo e isto não é uma relação ética.
Mas isto também não quer dizer que quando deixamos de julgar na verdade estamos deixando de ver o que o outro faz e sim, é a maneira mais nobre de reconhecer e aceitar você e o outro como verdadeiramente é, sem implicar na construção identitária de cada um, afinal todos tem suas próprias histórias que devem ser sempre respeitadas e isto sim é uma relação Ética.
A grande questão é que muitas vezes temos dificuldade de ser Ético nas relações, em saber lidar com nós mesmos sem julgamento tão como com as coisas que acontecem a nossa volta em um universo que estão as relações que fazer parte da nossa vida. Juntando toda a nossa história, as cobranças internas e externas a nós e a tudo que angustia as escolhas que temos que tomar para seguir adiante, está presente aquilo que é intrínseco a todos seres humanos, o nosso ego.
O ego é um artificio humano para nos proteger de tudo aquilo que de alguma forma e subjetivamente entendemos como ameaça, exposição de nossa fragilidade ou incapacidade de lidar com a própria realidade. O ego está muito mais para o “eu real”, aquele que é parte condizente da nossa essência humana. Daquela que muitas vezes não conseguimos lidar. Ele é como uma espécie de sombra que nos acompanha todas às vezes que nos sentimos incapazes de sustentar o “eu ideal” e o “eu desejado”.
Por isto, muito presente na vida humana, representamos o ego pelas máscaras que vamos construindo com a vida. Quando deixamos nos dominar pelo ego, todo nossa emoção, sentimentos e pensamentos se voltam para ele e junto estará sempre presente o desejo incompreensível tão como o medo de assumir a realidade de sermos imperfeitos.
O ego é um paradoxo de nós mesmos, com ele achamos momentaneamente que estamos nos apresentando como fortes e empoderados, mas na verdade ele está para o sentido de indefesso levando a querer ou temer alguma coisa que possa vir da outra pessoa.
Se não darmos conta do nosso ego, transformamos a vida em uma busca continua de respostas que sempre irão justificar aquilo que somos e dificilmente conseguiremos ter uma relação adulta, madura e de amizade sincera. No ego não há dúvidas e sim certezas.
Por isto, sempre está presente no interesse de usar o outro para alimenta-lo, seja pelo prazer, vantagens, reconhecimento, sentimento de pertencimento, superioridade, elogio, atenção, ou fortalecimento da identidade, quando se compara achando que sabe, ou que tem mais do que os outros. Entretanto, ele também nos faz ser temente nas relações caso o contrário ocorra, em outras palavras, ele sempre está preocupado no que outro acha ou o que o outro seja caso ele tenha ou saiba mais do que você, fixando a ideia de que o outro não pode estar melhor ou ter algo a mais já que isto de alguma forma faz diminuir a ideia que você faz de si mesmo.
O ego é o começo e o fim de uma relação, é a base maior das intrigas, brigas e discórdias, está presente nos conflitos, nas desarmonias e divergências. O ego é a arma que muitos usam para querer apontar o dedo, julgar, culpar ou usar o outro para sustentar a si mesmo mostrando altivez, soberba, vaidade, arrogância, podendo mesmo revelar desprezo em relação a outra pessoa, por tudo aquilo que não se consegue se autoconscientizar.
Pessoas egoístas dificilmente conseguem se ver como tal, porque é algo que traz o sentimento que pode ser uma característica própria do “eu” ou um vício já que não consegue entender que ninguém é totalmente autossuficiente ou que ninguém consegue viver sozinho ou em relações de interesse que somente massageie o próprio ego.
Vale a pena se afastar de pessoas que só querem te ajudar ou alimentar uma ilusão de possibilidades relacionais por falta de modéstia. Pessoas egoístas tem dificuldade de aceitar tudo aquilo que não é capaz de dominar e controlar e por isto, tem como hábito usar a ilusão com outros para ter ganhos sobre si mesmo.
A verdade é que o segredo da vida talvez esteja realmente na ética das relações. Em saber respeitar os outros sem mostrar suas garras e sua vontade crescente de achar que pode humilhar ou ferir o outro com seus critérios de importância egoístas.
Sem o ego ou melhor, com ele controlado, nos importaríamos muito mais em saber a respeito outro e isto sim ajuda por motivos práticos a tornar a vida mais leve e alegre. Nesse sentido não nos deixamos levar pela condição de superioridade se nos importamos realmente em saber a respeito da pessoa com quem nos relacionamos. Mas quando essa é a única característica de uma relação, fica também muito limitador e até destrutivo.
Esta desarmonia criada pelo ego implica não só na forma que observamos as coisas, mas em como nossos pensamentos e conceitos são artificiais, e isto claramente torna-se um motivador para uma separação entre as pessoas. As interações humanas não ficam alinhadas ao “ser”, mas ao outro como objeto, servindo apenas como alicerce para sustentar as próprias vaidades.
Com ele controlado damos continuidade ao verdadeiro sentido de crescimento humano, valor as próprias experiências, respeito a si mesmo como ao outro, aceitando o outro por inteiro, um processo de autocompaixão, quebrando barreiras dos conceitos e crenças criados pela mente, o amor se torna possível e naturalmente presente em todas as relações humanas.
A realidade é que a maioria dos relacionamentos humanos se restringe a individualidade, aonde cada um quer ser o centro das verdades, não há troca de palavras – o reino é do pensamento.
Talvez na vida das relações esteja fundamentalmente faltando acalmar os corações. Estar verdadeiramente vulneráveis consigo para dar sentido à vida sem necessidade de usar o outro como objeto. É fundamental trazer um pouco de silêncio e calma, sobretudo aos relacionamentos mais íntimos, para se tornarem verdadeiros de sentido. Se faltar silêncio e calma, o relacionamento será dominado por este algo presente em todos e correrá o risco de ser invadido por problemas e conflitos. Se há silêncio e calma, eles se tornam capazes de dominar qualquer coisa.
Ouvir na essência e com verdadeira vulnerabilidade é outra forma de trazer calma e minimizar às críticas e a raiva ao relacionamento. Quando você realmente ouve o que o outro tem a dizer, a calma surge e se torna parte essencial do relacionamento. Mas, ouvir na essência, seja talvez hoje uma habilidade rara, já que ao que parece o ego se tornou parte para validar a si mesmo.
O mais comum hoje e ver pessoas concentradas a maior parte da sua atenção no que estão pensando, no ter e naquilo que se impõe como verdade. Na melhor das hipóteses ficam avaliando as palavras do outro, para usar contra ou apenas usam o que o outro diz para falar de si mesmo e de seu poder dadas as próprias ilusórias experiências. Ou então não ouvem nada mesmo, porque acabam por estar perdidas pelos seus próprios pensamentos e seu senso de julgamento.
Ouvir na essência sem querer ter razão é muito mais do que saber escutar. É estar aberto para as diferenças e para o respeito mútuo, abrir um espaço em que as palavras são acolhidas pelo coração e delas fazer um filtro daquilo que realmente importa em ouvir. Senão, continuaremos fazendo das palavras como secundárias, usando o ego para interpreta-las.
Talvez, vale a pena refletir que o mais importante do que aquilo que se está ouvindo é o ato de ouvir em si, o estado de entrelaçamento de presença consciente que surge à medida que você ouve.
Esse entrelaçamento tem como sentido um campo unificador feito de atenção em que você permite estar vulnerável ao ponto de que a outra pessoa faça parte da sua vida sem as barreiras separadoras criadas pelos conceitos do próprio pensamento. A outra pessoa deixa de ser “o outro”, um objeto. Nesse entrelaçamento, você e o outro se tornam uma só consciência.
Como é possível falar em alegria, crescimento, amadurecimento e o despertar de si mesmo para o próprio empoderamento senão se libertar desta necessidade egoísta profunda e inconsciente identificação emocional.
O ego é sinal de sofrimento, capaz de criar tanta dor sem saber a origem em nossa vida. Quem sabe então, em vez das respostas, encontrar perguntas que nos auxilie a identificar a fonte e a consciência da dor. Tomar consciência de nós mesmo não é sinal de sofrimento e essa dor e sim de liberdade para dar chance aos melhores encontros com a vida. Reconheça o que eles são: uma dor do passado. Tome consciência da dor em nós ou no seu parceiro. Quando conseguir romper sua identificação inconsciente com essa dor do passado – quando souber que não não somos a dor – quando conseguir observá-la dentro de si mesmo, deixará de alimentá-la e aos poucos ela irá se enfraquecendo e nós nos tornamos cada vez mais nós mesmos, menos dependente do ego que tanto se faz presente.
O mais interessante de tudo isto é que quando observamos uma pessoa que amamos, ou quando contemplamos suas imperfeições vemos a sua beleza pela natureza e algo intrínseco reage profundamente, vale a pena se calar, silenciar e sentir a essência desse amor dentro de si, inseparável do que nós somos, da sua verdadeira razão de ser, assim, tudo que é externo se desfaz e em algum momento surgi um reflexo temporário de quem realmente somos por dentro, na essência. Por isso o amor por mais distante que esteja, em todas as formas externas e internas não nos abandona e nem faz com o dia acabe sem ter tido razão por existir.
No entanto quando transformamos o outro em objeto, quando nós usamos ele para valorizar-nos aos nossos próprios olhos, a preocupação com os objetos pode dominar toda a nossa vida, o que não corre quando nos permitimos nos identificar com nós mesmos para nos relacionarmos da melhor forma possível, apreciando o outro pelo que são, pois está se vendo nelas o real, aquilo que não nos iludimos, porque nos sentimos livres para reconhecer o outro pelo coração sem medo de nos apresentar por inteiro. Se nós desenvolvermos uma apreciação pelo outro desprendidas do ego, o mundo à nossa volta adquire vida de uma forma que nós não seremos capaz sequer de imaginar pelas próprias experiências já vividas e sentiremos livres de dizer ao outro tudo aquilo que deve realmente ser dito, sinceramente porque estaremos nos expressando vulneravelmente sem medo ou receio de sermos nós mesmos.
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